No dia 1º eu participei de uma oficina no CCSP. Estou dividindo aqui um material produzido lá.
Eu fiz essa crônica abaixo que está na 3ª página do fazine experimental, no final do post.
O Descompasso do Tempo
É noite em São Paulo. Uma jovem atravessa o saguão do metrô. Atrás de si o som ruidoso de seu salto agulha.
Espera o trem.
O vento alvoroça os seus cabelos alisados anunciando a chegada da composição. No vagão ela se estica como pode entre os passageiros. Conforme se estica o seu corpo pende de forma que sua bolsa percorre um monótono movimento pendular.
O trem anda e para. Anda e para.
Repentinamente um raio do luar invade o vagão. Ouve-se um toque de celular. Lutando contra o movimento do trem a jovem se agarra firmemente à barra enquanto procura o aparelho com sua outra mão. Seus dedos percorrem apressadamente a bolsa.
– Alô! – o trem para bruscamente. Os passageiros permanecem estáticos. Total silêncio.
– Eu não posso lhe encontrar hoje. – diz a voz vinda de dentro do aparelho.
– O quê?
– Desculpe. Eu não te amo mais.
– Você pode repetir? Eu não entendi nada. A ligação esta muito ruim.
Seguiu-se um silêncio seguido de um breve ruído. A linha caiu.
E o trem prosseguiu.
Veja o zine experimental completo: